terça-feira, 14 de julho de 2009

O fim do arco-íris


A estrada húmida,
o corpo melado pelo calor,
e uma sensação de desconforto,
atenuada apenas pelo prazer da viagem,
real,
saboreada a cada passo percorrido.

No céu, dois arco-íris espreitavam,
e no final de cada um,
o caldeirão de ouro,

talvez...
o fim do sonho ou o seu início...

Em redor a densa vegetação oprimia-me,
revelando toda a natureza,
poderosa,

imponente.

O cheiro da terra tocou-me,
senti-me possuída,
por essa terra vermelha de onde nascem
e onde regressam todos os seres vivos,
esse ventre materno que nos dá vida
e nos acolhe por fim.


Lá longe, os nativos caminhavam,
pobres,

descontraídos,
esboçando sorrisos,
alheios aos meus pensamentos,
felizes na sua ignorância...

Olhei para os meus braços,
húmidos e quentes,
senti um arrepio

tremi de vergonha,
percebi então
que a minha pálida cor
ditou o meu conforto
e o desconforto deles.

Sinto o peso da culpa,

de um passado que não fiz,
mas do qual faço parte.

O arco-íris esbateu-se
tão suavemente como surgira...


E não voltou...

Amantes

Passámos os limites do jogo,
quebrámos as barreiras da convenção,
e do medo,
quisemos ir mais longe...
os corpos cederam ao desejo,
as mentes pararam.

Acreditámos que era possível apenas sentir.
Esquecemo‑nos do mundo ao fechar a porta.

Unimos os nossos lábios,
sedentos de paixão,
nas ondas agitadas dos lençóis,
descobrimos os nossos corpos.

Até que...
abriste de novo a porta,
deixaste entrar a realidade,

e partiste...

Arte

É um jogo de sedução,
que nos prende só com o olhar,
uma conversa por enigmas,
que um e outro vão decifrando
na ânsia de se descobrirem,
despindo-se lenta e cuidadosamente.

Prepara‑se o terreno,
como quem prepara a terra que ama.

Passo a passo, rumo ao desconhecido,
que nos atrai como uma força magnética,
procura do sabor da vida.

Este doce trabalho de criação,
que nos embriaga a alma,
termina no dia em que, cheios da alegria de um vencedor,
possuímos o objecto do nosso desejo.

Dar o salto!

O silêncio da solidão volta a cair sobre mim.
A noite esconde mistérios por descobrir. As lágrimas que choro não se podem ver, secaram, como secou todo o meu ser.
Foram tantos os enganos, as ilusões, e a indiferença sentida que a ferida aberta jamais fechará. Tudo acabou ... outra vez.
O meu mundo extinguiu-se como uma vela que se acendeu e derreteu...
Vivo por viver ... perdi tudo, até a dignidade ... Fui escrava de um amor impossível, insensível e destruidor. Por vezes sinto vontade de ir para longe, para onde ninguém me conheça. Partir, não à descoberta de novos mundos, mas à redescoberta de mim própria, ou do pouco que resta.
Longe, isolada, mergulhada numa introspecção dolorosa, mas necessária....
Sinto que nunca terei coragem para dar o salto para esse lugar obscuro e nunca terei coragem de acabar com a dor! E até isso dói!

I need to go away

Verão cinzento, gelado
Vivido na solidão
do desamor,
do desencontro,
de uma paixão sem pudor!

Queria partir,
Simplesmente ir,
e deixar de sentir
esta dor.

Quero partir,
deixar-me levar,
e sentir de novo o amor...

Crossroads

Caminhos cruzados
que se desviam,
deixando-me só e desamparada.
Caminhos velhos e gastos...
Dores sofridas,
lágrimas derramadas,
penas vividas.
Angústia...
E a eterna espera
E a busca....

Dor

Coração magoado,
Ferido, sofrendo de novo,
A dor de não ser amada.

Só, amargurada, infeliz
Sem saber para onde ir,
Perdida, cansada,
Revoltada por ter acreditado
numa ilusão,
numa imagem,
num reencontro,
numa paixão.

Paixão que nunca existiu,
Nem existirá,
Senão dentro de mim,
E não mais se reacenderá.

Sequei por dentro,
Murchei por fora,
e a Deus peço
forças para ir embora!

Se partir dói,
ficar também!
Só queria ter algo de bom
Para recordar...
___________________________________

Felicidade

Busca eterna,
Movimento constante,
Frustrante.
Afinal quem és e onde estás?
Dentro de mim,
Por certo não,
Vislumbro apenas um vazio,
Sem esperança.
Deixei de acreditar,
Não consigo nem lutar
Sinto-me vencida,
Preterida,
Usada e humilhada.
Se és um estado de alma,
Ou uma sensação do momento,
Faz-me um sinal
E alivia o meu sofrimento.

sábado, 11 de julho de 2009

Recuperar o irrecuperável

Recuperar o irrecuperável
a angústia de querer o impossível.
Os sons, os odores, as imagens
que não voltam mais,
presentes, contudo,
na memória,
vivas nas emoções,
sentidas na dor do querer.

Rompe-se a linha do tempo,
sobrepõem-se episódios,
suspensos ...
redemoinham na mente,
descem pela garganta
onde pousam,
sucumbindo em doloroso sufoco.

8/6/99

Porquê?

Por que é que amas apenas quando é um amor proibido?
Por que tratas mal quem te ama?
Por que é que nunca me escreveste uma carta de amor?
Por que é que nunca me amaste nem um pouco, nem um dia, nem um minuto?
Por que é que me procuraste se não me querias?
Por que é que te cansaste tão depressa de mim?
Por que é que a tua boca diz uma coisa e a tua alma outra?
Por que é que o teu corpo me quer? … às vezes
Por que é que receias estar preso a quem não tem o poder, nem a vontade de te prender?
Por que é que quem te humilha tem direito a tratamento de princesa, e quem te trata bem é empurrado como um objecto gasto e sem interesse?
Por que é que quem quer filhos não os tem e quem os tem, não os quer?
Por que é que quem luta a vida inteira não consegue, e quem não faz nada tudo tem?
Por que é que afirmas querer a liberdade, pois se essa sempre foi tua?
Por que é que não valorizas o esforço e a dedicação e desculpas o egoísmo e a indiferença?
Sabes lá o que são olhos tristes!
Sabes lá o que é a dor da alma!
Sabes lá o que é sentir estar a mais e não poder fazer nada!
Sabes lá o que é acordar todos os dias e fingir que está tudo bem, só para conseguir chegar à noite - viva!
Não sabes, nem desejo que saibas, não posso nem devo gastar as minhas poucas energias a guardar rancor, seja de quem for. Mas mágoa, essa sinto, apenas mágoa, apenas tristeza, e muita, muita impotência... Muitas dúvidas assolam a minha mente... tantas que não me deixam espaço para pensar no meu trabalho. A única consolação que me resta é que tenho a consciência tranquila, não sinto culpa, nem culpo ninguém.... mas continuo sem perceber uma série de coisas ... tantas que podia encher um oceano.
Odeias quando choro, eu sei, odeias sinais de fraqueza, ou será que é simplesmente a sensibilidade que te assusta, pois não sabes lidar com ela?! Não gostas de ver um filho chorar – por outros motivos é claro – não é certamente um quadro bonito! Mas sabes, o meu pai também não gosta de me ver chorar! E já viu vezes demais.... lágrimas de sangue que derramei por amor. Mas decidi acabar com as lágrimas, pelo menos com as que têm a ver com o amor! E quando há vontade, há poder! Posso até chorar de raiva, mas não por amor!
Nunca pensei acabar os meus dias ao teu lado, pois conheço-te há demasiado tempo para ter esse tipo de ilusão. Também não esperei nenhum tratamento principesco, até porque quem ama e espera algo em troca parece que está a fazer um negócio, e, como já percebeste, nem tenho tendência para negociatas, nem as aprecio. Tudo o que eu desejava sentir é que desse lado havia também amor, ledo engano, amor cego que não me deixou ver nada... Tudo não passou de um filme na minha cabeça! Mais uma vez, a última vez.

Pensas que só tu vês mais além, só tens uma espécie de percepção extrasensorial, enganas-te! Há muito que eu sentia a ruptura, mas como achava que tinha aprendido algumas lições com a vida, estava calmamente à espera tudo voltasse à normalidade. Começaste a fartar-te de mim em Junho e desde daí, ou porque não quisesses assumir esse facto, ou porque não te parecesse a altura mais propícia, só cavaste um abismo maior, só me magoaste cada vez mais, só mentiste uma vez mais. Se tivesses tido a frontalidade de pedir até umas férias de mim, se tivesses percebido que era um erro eu ir contigo para o Algarve, talvez até as coisas tivessem sido diferentes. Só lamento que tivesses aproveitado uma situação provocada por terceiros, e uma opinião de outrem para resolveres uma questão que era minha e tua unicamente. Onde é que está a tua famosa liberdade de decisão, afinal segues o que os outros dizem e pensam... mais uma vez não percebo!
Por que é que precisas sempre de bengalas para te afastares de mim?
Por que é que sempre procuraste na rua o que já tinhas ao teu lado?
Por que é que tens medo de mim? Sou simplesmente um pássaro ferido, que acaba sempre por sobreviver? O que é que há em mim que te assusta? Por que é que nunca me deixaste ver o teu coração? Por que é que o mostraste a outras mulheres, mas a mim nunca?
Por que é que me mandaste embora como quem abandona um animal antes de ir de férias, ou porque cresceu e deixou de ter piada!

Achas que é fácil contar os dias que faltam para me ir embora?
Achas que é fácil brincar com as crianças todos os dias e ouvi-las dizer apenas “Boa noite, pai” Pensas que não dói quando eles te perguntam se tens namorada, ouvir dizer na minha frente que tens muitas ou não tens nenhuma, ou tens a mãe deles? Consegues por momentos imaginar como seria se isso se passasse contigo, apesar de teres deixado ficar bem claro que nunca darias um passo como o que eu dei! Tenta, uma única vez que seja colocar-te na minha posição, tenta, não te pode fazer mal apenas tentar! E diz-me, ou melhor ensina-me tu, que tantos livros lês, que tanto meditas, ensina-me a passar por mais esta provação... Ajuda-me a aguentar o tempo que falta... Sempre tiveste a mania de que eu fazia teatro, pois quem o faz és tu. No fim-de-semana passado, chamaste-me várias vezes para ficar ao pé de vocês, mas feliz ou infelizmente os miúdos queriam brincar comigo e pude afastar-me, porque o que estavas a fazer era teatro puro e simples, a fingir perante os teus amigos que me querias ao teu lado, quando ambos sabemos que tudo o que queres é livrares-te de mim. Se isso não é teatro, então não sei o que é?! E digo infelizmente em relação ao facto de os miúdos quererem brincar comigo, porque isso torna a separação mais difícil para mim. É que eu sou tão estúpida que mesmo sabendo que eles não gostam de mim porque além de eu ter a convicção de que as regras também fazem parte da educação, continuam a achar que eu estou a ocupar o lugar da mãe deles e mesmo assim gosto dos miúdos e vou sentir a sua falta! Estúpida! Burra! Idiota! Cometo com as crianças o meu erro que cometo com o pai delas, amo em vão.... não sou minimamente amada. E isso dói porra, se dói!

Se eu pudesse ía embora hoje mesmo, pois cada dia que passa custa mais, e ainda por cima não sei exactamente quando o poderei fazer. Não depende apenas de mim!

Lamento incomodar-te tanto com a minha presença, lamento mesmo... não gostava que fizessem isso comigo... mas tens de ter paciência, não posso ir morar para debaixo da ponte...


9/11/03
(um mês depois do adeus)

Dança

Não conheço a sua linguagem,
mas entendo os seus gritos.
Torrentes de sentimento
que brotam da alma,
ecos do passado
descem à planície
e voltam à vida.

O seu olhar, cor da terra,
iluminado pela fogueira
rasga-me a pele
e penetra no meu ser.

Sinto a magia
pulsar dentro de mim,
entro na sua dança
e deixo-me ir...

1996

Elogio ao Amor

Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.
O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A"vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.
Não se pode ceder. Não se pode resistir.A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não.Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.
Miguel Esteves Cardoso

Dedicatória

“É acima de tudo importante que tenhamos um coração caloroso. Enquanto fazemos parte da sociedade humana, é muito importante sermos bondosos com um coração afectuoso.”
“Todos somos iguais no aspecto em que desejamos ser felizes e queremos superar o sofrimento, e eu acredito que todos partilhamos o direito a realizar esta aspiração.” Dalai Lama – Central Park, Nova Iorque, 1999

Também eu acredito que todos temos o direito à felicidade e que esta se encontra especialmente dentro de cada um de nós. Contudo, não podemos esquecer que o ser humano é um ser social e que não devemos causar a infelicidade a ninguém com o intuito de conseguir a nossa. Porém, acredito igualmente que ninguém será feliz completamente sozinho, se isso assim fosse então qual seria o sentido da vida em sociedade?
Se acreditas no amor, pelo menos em sentido lato, acredita que a maior prova desse amor é libertarmos o ser amado. É claro que ninguém pode dar-nos aquilo que já é nosso, ou seja, a liberdade, mas ir embora é certamente um acto de amor. Não te posso dar maior prenda, nem mais valiosa. Vou-me embora para seres feliz e se precisares de mim, certamente saberás onde encontrar-me.
Independendemente da utilização dos pronomes possessivos que tanto odeias (mas que feliz ou infelizmente fazem parte da nossa língua), serei sempre a tua mulher e tu serás sempre o meu homem. Unem-nos laços que ninguém, nem o tempo podem apagar. A nossa relação não acaba aqui, como não acabam os dias e as noites, ou os ciclos da natureza. O nosso encontro não foi um acaso, o nosso reencontro não foi um acaso. Ambos não fizeram parte dos nossos planos, foram (parafraseando a Alexandra Solnado) simplesmente os planos que a vida tinha para nós. E isto é muito forte, não termina como uma brisa de Verão...
Todos somos diamantes por lapidar. A vida, as experiências, as relações humanas vão ajudando a limar algumas arestas, outras estão por nossa conta e risco. É este aspecto evolutivo que nos distingue dos demais animais, é a nossa capacidade de fazer escolhas e de voltar a fazê-las, até encontrarmos o nosso caminho.
Tenho a consciência tranquila, tentei e voltaria a tentar. E se não for nesta vida, noutra será, mas o diamante que sou, um dia perfeito será e alcançará a luz.
Desta reprise da nossa relação a única coisa que lamento é não te ter dado o filho que prometi e que eu tanto queria, mas se nos voltarmos a encontrar (noutra vida!) lembra-me que o nome que escolhemos foi Francisco David, pois a minha memória já não é muito boa e nada me garante que na próxima reencarnação seja melhor!

Sê feliz! E não te aborreças por fazeres anos. Cada ano que passa é uma vitória sobre a vida, é mais um conjunto de experiências que fica, é sempre uma batalha ganha.

(30/10/03)

Depois dos 30

Para todas as mulheres com mais de 30 anos... e para aquelas que têm medo de entrar nos 30... e para os homens que têm medo das mulheres com mais de 30!
À medida que vou envelhecendo, valorizo cada vez mais as mulheres com mais de 30 anos. Estas são apenas algumas das razões porque o faço: - Uma mulher com mais de 30 nunca te acordará a meio da noite para perguntar "Em que é que estás a pensar?". Ela não se importa com o que tu pensas. - Se uma mulher com mais de 30 não quer ver o jogo de futebol, não se senta a teu lado a lamentar-se. Ela faz alguma coisa que queira fazer. E, geralmente, é algo mais interessante. - Uma mulher com mais de 30 conhece-se suficientemente bem a si própria para estar certa de quem é, o que quer e de quem o quer. Poucas mulheres com mais de 30 anos ligam alguma ao que tu possas estar a pensar sobre ela ou sobre o que ela está a fazer. - As mulheres acima dos 30 têm dignidade. Raramente terão uma discussão aos gritos contigo na ópera ou no meio de um restaurante chique. No entanto, claro, se tu mereceres, não hesitarão em dar-te um tiro. - As mulheres mais velhas são generosas nos elogios, muitas vezes não merecidos. Elas sabem o que é não ser apreciado. - Uma mulher acima dos 30 tem segurança suficiente para te apresentar às amigas. Uma mulher mais nova acompanhada de um homem ignora frequentemente até a melhor amiga porque não confia no homem perto de outra mulher. Uma mulher com mais de 30 não se podia estar mais nas tintas se tu te vais sentir atraído pelas amigas dela, não porque confie em ti, mas porque sabe que elas não a trairão. - As mulheres tornam-se psíquicas à medida que envelhecem. Nunca terás que confessar os teus pecados a uma mulher com mais de 30. Elas sabem sempre. - Uma mulher com mais de 30 fica bem a usar um batom vermelho brilhante. O mesmo não se aplica às mulheres mais novas. - Depois de ultrapassares uma ou outra ruga, vais ver que uma mulher com mais de 30 é de longe mais sexy do que qualquer colega mais nova. - As mulheres mais velhas são correctas e honestas. Dizem-te imediatamente que és um idiota se te estiveres a comportar como tal. Nunca tens que tentar adivinhar em que pé estão as coisas entre vocês. - Sim, nós elogiamos a mulher com mais de 30 por várias razões. Infelizmente, não é recíproco. Por cada bela, inteligente, segura e sexy mulher com mais de 30 anos, existe um careca, barrigudo, em calças amarelas a fazer figura de parvo com uma empregada de mesa de 22 anos.
(por Andy Rooney, apresentador do programa da CBS "60 Minutes")

Fernando Pessoa ... sempre

Desde que sinta a brisa fresca no meu cabelo
E ver o sol brilhar forte nas folhas
Não irei pedir por mais.
Que melhor coisa podia o destino dar-me?
"Que a passagem sensual da vida em momentos
De ignorância como este? "

Ricardo Reis

Em busca do tempo perdido

I hold it true, whate'er befall;I feel it, when I sorrow most;'Tis better to have loved and lostThan never to have loved at all.
Alfred Lord Tennyson, in Memoriam, 1850

O tempo passa mais depressa do que desejamos, pelo menos, mais depressa do que alguma vez desejei. Errei pela vida na pele de um Dom Quixote feminino, louca atrás do que nunca podia ter, quando afinal de contas sempre tive tudo, sem sequer o saber.
Não possuímos nada, nem ninguém. Não pertencemos a ninguém, mas ao mundo. Tudo o que possuímos na verdade é o nosso próprio Eu, por isso mais vale aprendermos quanto antes a aceitar quem somos e a melhorar o que julgamos necessário e possível melhorar.
Errar, todos erram, é humano e é o que nos torna mais interessantes, pois podemos reinventarmo-nos a cada dia que passa. É talvez este acto magnífico de recriação que nos aproxima mais de Deus e o que nos afasta mais Dele também! Um paradoxo? Pois será! Mas é igualmente a única forma de caminharmos no sentido da verdadeira Vida – repleta de emoções, experiências, sensações, lágrimas, sorrisos e risos, dores, desilusões, desejos, vontades, momentos de felicidade ou de total angústia. Seres frágeis e fortes, capazes de dar vida e de a tirar, seres humanos em eterno devir, numa busca incessante por um lugar ao sol.
E quando um dia acordamos e percebemos que já se passaram 20, 30, 40 anos da nossa vida, durante os quais foram mais as vezes que tropeçámos e caímos, do que as vezes em que nos levantámos e subimos mais um degrau da vida? O percurso é, talvez, mais importante do que o objectivo final, mas será preciso atravessar desertos, pisar espinhos, percorrer labirintos sem um croqui para nos orientarmos? Será que tudo tem de ter sabor a lágrimas?
Será que a juventude perdida é a única coisa que nos agarra à vida?
Não, não quero acreditar nisso. Não quero acreditar que já se esgotou o meu tempo. Não, o meu tempo sou eu que o construo, responsável pelos meus erros, pelas minhas vitórias. Se é que as tive!! Não interessa o que passou, excepto pela aprendizagem que nos trouxe. Importa agora olhar em frente, acreditar e agir.

Após este interlúdio quase filosófico, eis que me dou conta que não foi nada disto que me levou a sentar e a escrever. Afinal o que me trouxe aqui? A este encontro comigo, a este momento em que a reflexão e a introspecção jorraram para o papel, perdão, para o interior do meu computador como quedas de água impossíveis de conter? Ah, já sei! Queria ajudar um amigo, que se queixou de mais uma desilusão de amor. Como se o amor fosse outra coisa senão desilusão! Amor, esse Graal que todos buscamos! Amores difíceis, incompreendidos, sofridos, mas sempre o mesmo amor. E a eterna busca...
A minha avó costumava dizer que o que tiver de ser nosso, às nossas mãos virá parar. Ela acreditava numa espécie de determinismo amoroso, como se a nossa história de amor estivesse já escrita e bastasse lê-la, na altura certa. Cheguei a pensar desta forma. Hoje acredito que temos de lutar também pelo amor, temos que lutar por tudo nesta vida.
Entretanto, e a propósito de teres escrito “Na neve” no msn, lembrei-me de um provérbio turco, “Before you love, learn to run through snow leaving no footprints”. Acho que se adapta ao que tens de tentar fazer nos próximos tempos – aprender a amar sem deixar marcas, pelo menos, marcas de dor. Além de que tens de estar bem contigo próprio, antes de estar bem com alguém. O que a priori é estranho! Não te conheço profundamente, é verdade, mas aparentemente tens todos os ingredientes para seres feliz. Tens juventude, estás a fazer o que realmente gostas, és bem parecido (na realidade muito bem parecido mesmo!), tens muitas mulheres interessadas em ti (basta escolheres), tens família, algum poder económico, o que falta? Apenas tempo para te encontrares e encontrares alguém para partilhar alegrias e tristezas! É um cliché? Talvez, mas é também um facto.
Há bocado disseste que estiveste doente e que te sentiste mal durante um jogo – isso sim é grave, porque tens de respeitar o teu corpo, tal como o teu espírito. Se o corpo te envia sinais para parares, tens de parar, não podes correr o risco de perder a tua grande paixão a nível profissional!

Mas por hoje basta – não te vou massacrar com mais palavreado. Aproveita o que a vida te dá, tira partido das oportunidades, mas nunca percas o lado humano, familiar, amigo.
Há sempre alguma forma de conciliar as coisas, mas também é verdade que a vida é feita de escolhas e que, por vezes, algo tem de ficar de lado. O importante é que nunca te obrigues a fazer o que não queres, porque um dia mais tarde vais sentir raiva de próprio e vais viver amargurado. Sei tão bem o isso é, amigo. São horas e horas às voltas na minha cama, sem dormir, a pensar e repensar nas inúmeras vezes que me violentei para agradar aos outros, desde família, amigos, patrões, maridos e namorados. Gastei tempo a ser o que os outros queriam que eu fosse e hoje sou um poço de revolta e amargura e estou só. Encontro-me naquele ponto em que já nada espero da vida, excepto a nível profissional, pois finalmente parece que descobriram que eu tenho valor e sirvo para alguma coisa concreta. Se não for tarde demais, é claro...

Quanto a um “nós” que nunca existiu, fica no imaginário o que podia ter sido, noutro tempo, noutro lugar... com amor ... sempre

Pequenos Milagres

A vida é efectivamente o grande milagre do nosso dia-a-dia. Depois temos os pequenos milagres que dela fazem parte e que nos maravilham e preenchem.
Acordar pela manhã no seio da minha família, abrir a janela e ver o sol é, sem dúvida, o milagre diário que mais prezo e aquele que me dá forças para continuar a lutar e a viver. Porém, quando penso um pouco mais nesta questão, não consigo deixar de me admirar perante o milagre da própria natureza que ainda subsiste, apesar dos ataques constantes de que é alvo por parte do ser humano. É realmente espantoso como o homem continua a desrespeitar a natureza e a agredi-la das mais variadas formas, sem se aperceber de que é a si próprio que está a agredir. Todos os seres vivos e todos os elementos da natureza têm uma função específica e quando o ser humano, supostamente civilizado e evoluído, mexe com o seu equilíbrio natural, pode provocar o caos. É sabido que os períodos quer de equilíbrio, quer de caos, não duram eternamente, alternando-se de forma cíclica, tal como os ciclos de morte e renovação da natureza.
No entanto, da acção humana pode depender a maior ou menor duração de cada um destes períodos e suas respectivas consequências. Mas nem tudo o que o homem faz é mau. Quando se descobre um novo medicamento ou uma vacina que podem salvar vidas humanas, opera-se um verdadeiro milagre que traz alegria a muitos corações.
E há ainda pequenos gestos no nosso quotidiano que desencadeiam milagres na nossa auto-estima, o perfume certo, aquela roupa especial, a viagem de sonho, ou simplesmente uma troca de olhares com o ser amado.
Os milagres acontecem se quisermos, mas é dentro de nós que os devemos procurar, perscrutando a nossa alma, dando ouvidos ao coração e apreciando cada momento da nossa vida como se fosse o último.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Lapso de memória

Perdi um pedaço de mim,

um ponto no espaço que se desfez,

uma luz que se apagou,

um cubo de gelo que se derreteu.

Não sei como aconteceu,

não me lembro como era,

traída por esta memória já gasta.

Perdi um poema,

um pedaço da minha alma.

Libertação



Entre quatro paredes me encontro.
Paredes grossas, amareladas, esburacadas.
Vivendo um pesadelo acordada.
Presa, encurralada, sem fuga possível.
É o cárcere em vida!
Acusaram‑me!
Culparam‑me!
Atiraram‑me para uma cela
e trancaram a porta.
Fortes grades de ferro separam‑me do mundo,
um mundo mais sujo e fétido que esta cela.
O mesmo mundo que recusei aceitar.
Busquei um ideal, lutei por ele,
mas eles não entenderam,
que por eles lutava também.

É a prisão forçada, não merecida.
Sinto a dor da clausura,
superior a qualquer tortura física.
Negaram‑me a liberdade.
E como louca me acorrentaram.

A um canto, a brilhar,
como uma pequena pedra preciosa,
vislumbro um pedaço de vidro.

Faço‑o deslizar pelos pulsos,

suavemente como uma carícia.
Observo fios de sangue que escorrem
para o chão.
Invade‑me uma sensação de paz,
de alívio.
Respiro devagar.
A cela enche‑se de uma luz ténue e doce.
Sinto‑me flutuar,
O sangue invade lentamente o soalho.
Deixo cair a cabeça sobre o peito cansado.
Livre enfim...

Sombras




Sou uma sombra do que fui,
perdi a consistência de outrora,
tornei‑me uma sombra errante.
Entre milhares de sombras
que habitam este planeta,
sou apenas mais uma!
A diferença está na consciência
de saber o que sou.

E que diferença!
Quem me dera voltar à ignorância,
à inocência de tempos que não voltam mais,
à pureza do desconhecimento.

Sou uma sombra ferida,
procuro aquilo que perdi
e aquilo que nunca tive.
Passo por outras sombras,
fingindo ser diferente,
pretendendo não ser mais uma.
Visto‑me de mulher,
caminho a passos miúdos,
tentando passar despercebida.

Desejos Proibidos


Trocamos olhares,
trocámos carícias.
Sensualidades que se cruzam,
em alegre perversão,
falámos sem palavras,
desejos proibidos,
corpos apetecidos,
em plena sedução,
que anseiam por se tocarem,
um dia,
outra vez.

Experiências com palavras

Gelei só com um olhar,
percebi que era o adeus,
o fim,
parei de pensar,
deixei de ver,
o mundo perdeu a forma,
em silêncio chorei,
sofri,
dor,
desespero,
perdida sem a tua imagem,
sem o teu corpo para me abrigar,
sem os teus olhos,
para me iluminar,
na escuridão total permaneci,
tragicamente só...