sábado, 11 de julho de 2009

Porquê?

Por que é que amas apenas quando é um amor proibido?
Por que tratas mal quem te ama?
Por que é que nunca me escreveste uma carta de amor?
Por que é que nunca me amaste nem um pouco, nem um dia, nem um minuto?
Por que é que me procuraste se não me querias?
Por que é que te cansaste tão depressa de mim?
Por que é que a tua boca diz uma coisa e a tua alma outra?
Por que é que o teu corpo me quer? … às vezes
Por que é que receias estar preso a quem não tem o poder, nem a vontade de te prender?
Por que é que quem te humilha tem direito a tratamento de princesa, e quem te trata bem é empurrado como um objecto gasto e sem interesse?
Por que é que quem quer filhos não os tem e quem os tem, não os quer?
Por que é que quem luta a vida inteira não consegue, e quem não faz nada tudo tem?
Por que é que afirmas querer a liberdade, pois se essa sempre foi tua?
Por que é que não valorizas o esforço e a dedicação e desculpas o egoísmo e a indiferença?
Sabes lá o que são olhos tristes!
Sabes lá o que é a dor da alma!
Sabes lá o que é sentir estar a mais e não poder fazer nada!
Sabes lá o que é acordar todos os dias e fingir que está tudo bem, só para conseguir chegar à noite - viva!
Não sabes, nem desejo que saibas, não posso nem devo gastar as minhas poucas energias a guardar rancor, seja de quem for. Mas mágoa, essa sinto, apenas mágoa, apenas tristeza, e muita, muita impotência... Muitas dúvidas assolam a minha mente... tantas que não me deixam espaço para pensar no meu trabalho. A única consolação que me resta é que tenho a consciência tranquila, não sinto culpa, nem culpo ninguém.... mas continuo sem perceber uma série de coisas ... tantas que podia encher um oceano.
Odeias quando choro, eu sei, odeias sinais de fraqueza, ou será que é simplesmente a sensibilidade que te assusta, pois não sabes lidar com ela?! Não gostas de ver um filho chorar – por outros motivos é claro – não é certamente um quadro bonito! Mas sabes, o meu pai também não gosta de me ver chorar! E já viu vezes demais.... lágrimas de sangue que derramei por amor. Mas decidi acabar com as lágrimas, pelo menos com as que têm a ver com o amor! E quando há vontade, há poder! Posso até chorar de raiva, mas não por amor!
Nunca pensei acabar os meus dias ao teu lado, pois conheço-te há demasiado tempo para ter esse tipo de ilusão. Também não esperei nenhum tratamento principesco, até porque quem ama e espera algo em troca parece que está a fazer um negócio, e, como já percebeste, nem tenho tendência para negociatas, nem as aprecio. Tudo o que eu desejava sentir é que desse lado havia também amor, ledo engano, amor cego que não me deixou ver nada... Tudo não passou de um filme na minha cabeça! Mais uma vez, a última vez.

Pensas que só tu vês mais além, só tens uma espécie de percepção extrasensorial, enganas-te! Há muito que eu sentia a ruptura, mas como achava que tinha aprendido algumas lições com a vida, estava calmamente à espera tudo voltasse à normalidade. Começaste a fartar-te de mim em Junho e desde daí, ou porque não quisesses assumir esse facto, ou porque não te parecesse a altura mais propícia, só cavaste um abismo maior, só me magoaste cada vez mais, só mentiste uma vez mais. Se tivesses tido a frontalidade de pedir até umas férias de mim, se tivesses percebido que era um erro eu ir contigo para o Algarve, talvez até as coisas tivessem sido diferentes. Só lamento que tivesses aproveitado uma situação provocada por terceiros, e uma opinião de outrem para resolveres uma questão que era minha e tua unicamente. Onde é que está a tua famosa liberdade de decisão, afinal segues o que os outros dizem e pensam... mais uma vez não percebo!
Por que é que precisas sempre de bengalas para te afastares de mim?
Por que é que sempre procuraste na rua o que já tinhas ao teu lado?
Por que é que tens medo de mim? Sou simplesmente um pássaro ferido, que acaba sempre por sobreviver? O que é que há em mim que te assusta? Por que é que nunca me deixaste ver o teu coração? Por que é que o mostraste a outras mulheres, mas a mim nunca?
Por que é que me mandaste embora como quem abandona um animal antes de ir de férias, ou porque cresceu e deixou de ter piada!

Achas que é fácil contar os dias que faltam para me ir embora?
Achas que é fácil brincar com as crianças todos os dias e ouvi-las dizer apenas “Boa noite, pai” Pensas que não dói quando eles te perguntam se tens namorada, ouvir dizer na minha frente que tens muitas ou não tens nenhuma, ou tens a mãe deles? Consegues por momentos imaginar como seria se isso se passasse contigo, apesar de teres deixado ficar bem claro que nunca darias um passo como o que eu dei! Tenta, uma única vez que seja colocar-te na minha posição, tenta, não te pode fazer mal apenas tentar! E diz-me, ou melhor ensina-me tu, que tantos livros lês, que tanto meditas, ensina-me a passar por mais esta provação... Ajuda-me a aguentar o tempo que falta... Sempre tiveste a mania de que eu fazia teatro, pois quem o faz és tu. No fim-de-semana passado, chamaste-me várias vezes para ficar ao pé de vocês, mas feliz ou infelizmente os miúdos queriam brincar comigo e pude afastar-me, porque o que estavas a fazer era teatro puro e simples, a fingir perante os teus amigos que me querias ao teu lado, quando ambos sabemos que tudo o que queres é livrares-te de mim. Se isso não é teatro, então não sei o que é?! E digo infelizmente em relação ao facto de os miúdos quererem brincar comigo, porque isso torna a separação mais difícil para mim. É que eu sou tão estúpida que mesmo sabendo que eles não gostam de mim porque além de eu ter a convicção de que as regras também fazem parte da educação, continuam a achar que eu estou a ocupar o lugar da mãe deles e mesmo assim gosto dos miúdos e vou sentir a sua falta! Estúpida! Burra! Idiota! Cometo com as crianças o meu erro que cometo com o pai delas, amo em vão.... não sou minimamente amada. E isso dói porra, se dói!

Se eu pudesse ía embora hoje mesmo, pois cada dia que passa custa mais, e ainda por cima não sei exactamente quando o poderei fazer. Não depende apenas de mim!

Lamento incomodar-te tanto com a minha presença, lamento mesmo... não gostava que fizessem isso comigo... mas tens de ter paciência, não posso ir morar para debaixo da ponte...


9/11/03
(um mês depois do adeus)

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