terça-feira, 14 de julho de 2009

O fim do arco-íris


A estrada húmida,
o corpo melado pelo calor,
e uma sensação de desconforto,
atenuada apenas pelo prazer da viagem,
real,
saboreada a cada passo percorrido.

No céu, dois arco-íris espreitavam,
e no final de cada um,
o caldeirão de ouro,

talvez...
o fim do sonho ou o seu início...

Em redor a densa vegetação oprimia-me,
revelando toda a natureza,
poderosa,

imponente.

O cheiro da terra tocou-me,
senti-me possuída,
por essa terra vermelha de onde nascem
e onde regressam todos os seres vivos,
esse ventre materno que nos dá vida
e nos acolhe por fim.


Lá longe, os nativos caminhavam,
pobres,

descontraídos,
esboçando sorrisos,
alheios aos meus pensamentos,
felizes na sua ignorância...

Olhei para os meus braços,
húmidos e quentes,
senti um arrepio

tremi de vergonha,
percebi então
que a minha pálida cor
ditou o meu conforto
e o desconforto deles.

Sinto o peso da culpa,

de um passado que não fiz,
mas do qual faço parte.

O arco-íris esbateu-se
tão suavemente como surgira...


E não voltou...

Amantes

Passámos os limites do jogo,
quebrámos as barreiras da convenção,
e do medo,
quisemos ir mais longe...
os corpos cederam ao desejo,
as mentes pararam.

Acreditámos que era possível apenas sentir.
Esquecemo‑nos do mundo ao fechar a porta.

Unimos os nossos lábios,
sedentos de paixão,
nas ondas agitadas dos lençóis,
descobrimos os nossos corpos.

Até que...
abriste de novo a porta,
deixaste entrar a realidade,

e partiste...

Arte

É um jogo de sedução,
que nos prende só com o olhar,
uma conversa por enigmas,
que um e outro vão decifrando
na ânsia de se descobrirem,
despindo-se lenta e cuidadosamente.

Prepara‑se o terreno,
como quem prepara a terra que ama.

Passo a passo, rumo ao desconhecido,
que nos atrai como uma força magnética,
procura do sabor da vida.

Este doce trabalho de criação,
que nos embriaga a alma,
termina no dia em que, cheios da alegria de um vencedor,
possuímos o objecto do nosso desejo.

Dar o salto!

O silêncio da solidão volta a cair sobre mim.
A noite esconde mistérios por descobrir. As lágrimas que choro não se podem ver, secaram, como secou todo o meu ser.
Foram tantos os enganos, as ilusões, e a indiferença sentida que a ferida aberta jamais fechará. Tudo acabou ... outra vez.
O meu mundo extinguiu-se como uma vela que se acendeu e derreteu...
Vivo por viver ... perdi tudo, até a dignidade ... Fui escrava de um amor impossível, insensível e destruidor. Por vezes sinto vontade de ir para longe, para onde ninguém me conheça. Partir, não à descoberta de novos mundos, mas à redescoberta de mim própria, ou do pouco que resta.
Longe, isolada, mergulhada numa introspecção dolorosa, mas necessária....
Sinto que nunca terei coragem para dar o salto para esse lugar obscuro e nunca terei coragem de acabar com a dor! E até isso dói!

I need to go away

Verão cinzento, gelado
Vivido na solidão
do desamor,
do desencontro,
de uma paixão sem pudor!

Queria partir,
Simplesmente ir,
e deixar de sentir
esta dor.

Quero partir,
deixar-me levar,
e sentir de novo o amor...

Crossroads

Caminhos cruzados
que se desviam,
deixando-me só e desamparada.
Caminhos velhos e gastos...
Dores sofridas,
lágrimas derramadas,
penas vividas.
Angústia...
E a eterna espera
E a busca....

Dor

Coração magoado,
Ferido, sofrendo de novo,
A dor de não ser amada.

Só, amargurada, infeliz
Sem saber para onde ir,
Perdida, cansada,
Revoltada por ter acreditado
numa ilusão,
numa imagem,
num reencontro,
numa paixão.

Paixão que nunca existiu,
Nem existirá,
Senão dentro de mim,
E não mais se reacenderá.

Sequei por dentro,
Murchei por fora,
e a Deus peço
forças para ir embora!

Se partir dói,
ficar também!
Só queria ter algo de bom
Para recordar...
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